A respeito da tão discutida ocupação da Ilha do Fogo pelo Exército Brasileiro, o poeta e escritor juazeirense Luiz Hélio Alves nos envia um bem humorado artigo da psicopedagoga Selma Mota do Carmo, que escreveu essa crônica sobre uma fictícia reunião entre os habitantes do Velho Chico, presidida pelo carismático presidente do Conselho D’Água Doce do Rio São Francisco, senhor Nego D’água.
Segundo Luiz Hélio, o artigo de Selma também tem o objetivo de provocar a sociedade para defender o interesse coletivo, e não apenas demonstrar sua insatisfação no discurso.
Confiram:
ATA DA REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DOS MEMBROS DO CONSELHO D’ÁGUA DOCE RSF
Aos três dias do mês de setembro, às primeiras horas do dia, reuniram-se ao redor da pedra situada às margens do Rio São Francisco, o Presidente do Conselho, o Negro D’água, e os outros poucos cardumes sobreviventes, para tratar da pauta única: A tomada da Ilha do Fogo pelo Exército Brasileiro.
Dando início à reunião, o presidente informou a todos os presentes sobre o não entendimento das leis que regem o racionalismo humano a respeito de processos democráticos e ditaduras militares. O surubim pediu para constar em Ata sobre a confusão que se tem feito com o seu cardume que apesar de pintados nunca “acinzentaram” a ilha. A traíra, juntamente com a piranha, relatou a existência dos problemas relacionados à verdade, ao conhecimento, ao respeito e ao amor fraterno entre os homens.
Já o cari lembrou a todos das palavras de Mahatma Gandhi, que a intolerância é em si uma forma de violência e um obstáculo ao desenvolvimento do verdadeiro espírito democrático. O Presidente do Conselho lembrou a todos sobre uma grande guardadora da ilha, a serpente, que há muito, está por um fio. Também pediu para constar em Ata a presença de membros do Conselho D’água salgada, que vieram apoiar a reunião.
Ao por do sol a reunião deu-se por encerrada. E eu, que não estava presente, não posso lavrar a Ata que não vai assinada por mim, nem pelo povo de Juazeiro e nem pelo povo de Petrolina, que não sendo polvo e nem peixe, também se ausentou.
Selma Mota do Carmo/Psicopedagoga
Fonte: Blog Do Carlos Britto
